COM PROJETO INOVADOR UFFS TEM MAIS DE 90% DE ESTUDANTES ORIUNDOS DE ESCOLA PUBLICA


No último dia 29 de agosto, a presidenta Dilma Rousseff sancionou a lei de Cotas, que terá efeito direto na democratização do acesso à universidade. A luta pela aprovação da lei mobiliza diversos setores da sociedade há mais de uma década, e é uma das principais bandeiras de luta do movimento estudantil.

De acordo com a lei, as instituições federais de educação vinculadas ao Ministério da Educação devem reservar, em cada concurso seletivo de ingresso nos cursos de graduação, no mínimo 50% das vagas, por curso e turno, para estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas.

Em consonância com a luta pela democratização da universidade, uma ampla mobilização social de diversos setores e entidades do Sul do país deu origem ao processo de criação da Universidade Federal da Fronteira do Sul (UFFS), que atualmente possui cinco campus (Chapecó, Cerro Largo, Erechim, Laranjeiras do Sul e Realeza) distribuídos entre os estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.

A universidade abriu as portas no ano de 2010, com um projeto altamente inovador, que prioriza o ingresso de estudantes oriundos de escola pública em seus cursos. Atualmente, 97% dos estudantes do campi atendem à esse perfil.

Além disso, a UFFS também tem mecanismos que garantem a participação direta da sociedade civil para debate e definição da política de ensino, pesquisa e extensão da instituição. “Em cada um dos campus temos um conselho universitário e membros da sociedade civil e os estudantes têm cadeira nesse conselho. Realizamos audiências públicas anualmente”, explicou o vice-reitor da universidade, Antonio Andrioli, em entrevista ao site oficial da UNE.

O estudante de engenharia de aquicultura do campus de Laranjeiras, Eloir Faria, e cita o Conselho Estratégico Social, do qual também participam membros da sociedade civil, como um exemplo de inserção dos movimentos sociais na universidade. “A participação dos estudantes nos conselhos também é bem grande”, completa ele, que representa os estudantes em três importantes comissões: Comissão Central da reformulação do estatuto da universidade, Comissão de estudo da implantação do curso de medicina em Passo Fundo e Comissão que realiza as eleições gerais pra reitoria e conselho universitário.

POLÍTICA DE ACESSO À UNIVERSIDADE
A universidade criou um sistema de bonificação em cima da nota do Enem que tem sido bastante eficaz na potencialização do acesso de estudantes oriundos da escola pública a todos os cursos. Para cada ano do ensino médio cursado no sistema público, o estudante recebe um acréscimo de 10% em sua nota do Enem. Ou seja, a bonificação pode chegar à 30%.

“Antes, no movimento de criação da universidade, nós discutimos a política de acesso. Naquela ocasião, criamos esse sistema e isso fez com que chegássemos a esse índice, inédito no país”, explicou o vice-reitor.

O sistema tem garantido o acesso de jovens em cursos bastante disputados, como engenharia e arquitetura. “Eu sempre quis estudar isso, mas minha família não tinha condições de pagar pelos meus estudos”, contou a estudante Nubia Raquel Lyneburger, de 20 anos, estudante da primeira turma de Arquitetura e Urbanismo da UFFS. A mesma oportunidade de ingresso na universidade também levou a filha de agricultores, Dioni Angelin, de 21 anos, ao curso de Licenciatura do campus de Realeza. “Os 30% para quem faz ensino médio na escola pública é um fator relevante que traz pessoas sem perspectiva de estar e se manter em uma Federal”, disse a estudante.

A universidade se prepara para inaugurar, em 2013, dois cursos de medicina. “Sabemos que nossa experiência e a única do país que coloca tantas pessoas de escola pública e tem orientado a vários outros setores da educação. A expectativa é que tenhamos 87% a 90% de estudantes da escola pública. Isso é algo totalmente novo para o Brasil. Poderemos garantir a presença daqueles que nunca tiveram oportunidade. Esse é um compromisso histórico”, afirmou o vice-reitor.

INGRESSO NA UFFS APÓS A LEI DE COTAS
Para o ingresso na universidade em 2013, após a aprovação da Lei de Cotas, a UFFS prepara algumas alterações em seus mecanismos. A universidade continuará utilizando a nota do ENEM como critério básico de seleção. Porém, pretende reservar aos cotistas oriundos do ensino médio público integral porcentagem equivalente a de alunos matriculados no ensino médio da rede pública de ensino, de cada estado em que a UFFS está instalada. Dessa forma, o processo seletivo será diferenciado em Santa Catarina, no Paraná e no Rio Grande do Sul.

A lei dispõe, ainda, sobre a reserva de vagas para os autodeclarados negros, pardos ou indígenas (cotas de etnias). Com base nos dados do Censo IBGE 2010, Santa Catarina tem 16%, Rio Grande do Sul 17% e Paraná 29% da população que se enquadra nesses critérios. A UFFS apresenta ainda outra ação afirmativa: vagas suplementares para indígenas e negros, se houver inscritos e não aprovados na última chamada.

“Estamos inovando com relação às cotas, considerando que a lei exige que nós façamos uma cota para negros, pardos e índios, sem que haja diferenciação. Então, pela nossa autonomia universitária, temos a proposta de colocar vagas suplementares para garantir a presença de todos”, explicou Antonio Andrioli.

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